sexta-feira, 22 de julho de 2011

A onde estão minhas fantasias? Quando as perdi? Em que momento elas perderam a capacidade de camuflagem do real? Por que não posso e não consigo mais, viver encoberta pelas fantasias que me sustentaram por longos anos?
Não sei dizer por que minha consciência tomou-se de uma lucidez tão vasta e estranha que me pôs em confronto com o mundo real, e do qual abomino. Que fator, que fato, me fizeram perceber que o mundo que criei e que me manteve viva, desmoronou como um castelo de areia, sem fundamentação alguma?
Como é triste saber-se consciente!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Divã II

Minha cólera, minha ira se alastram como com o poder destrutivo de um vulcão. Deixo os destroços das palavras ditas e não ditas, destroços das ações não pensadas e pensadas. E me defronto diante dos destroços. São também fragmentos meus, porque inflo e expando-me, até meu limite máximo, de uma quase fissão nuclear. A impulsividade, a incapacidade de ser coerente, me põe como uma corda entre o abismo e o inferno.
Eu sou meu inferno. Minha consciência é meu inferno dantesco.
Resultado de forjar o que não sou. Das múltiplas facetas e personas que devo representar, perante os outros. Como se não me fosse permitido ser o que sou. As representações me consomem. Subo ao palco das hipocrisias humanas e nele forjo um papel que não consigo interpretar. Uso uma máscara que não me cabe na mente. Odeio a falsidade dos aplausos falsos, das criticas e vaias, quando o papel se corrompe e assume a realidade, que ninguém quer ver.
O palco, o teatro, a trama que se revelam, devem ser a de sempre. Finais felizes!
A tragédia que se subordina ao que é aceito socialmente, ao que é tolerável.
Não é um teatro... É picadeiro de circo que me enoja, porque percebo a estupidez da plateia, que se ri divertida, afinal, representamos bem nosso papel... Então, aplausos para a grande mentira, que conforta e conforma as dores da alma e alimentam as fantasias.

No Divã

Há dias em que sinto que não posso mais.
O amanhecer é meu principal inferno. É nele que me descubro consciente de mim mesma. Carrego em mim dores que não se justificam por si mesmas, são aleatórias e difusas. Não há objetividade e tão pouco, racionalidade para as angústias que me preenchem os poros da alma.
Fumo em demasia, bebo em demasia.. Tudo em mim é o extremo. O extremo da dor, o extremo do medo e o extremo do refúgio que busco e que me é negado pelas exigências que me foram impostas. Assumi, involuntariamente, a missão de viver e viver consiste em algo que perdeu o sentido. Tantos sentidos que busquei construir e nenhum deles me trouxe a significação maior de continuar a existir.
Parece-me um erro viver pelos outros.
Vive-se porque se quer estar vivo, sem esta condição primordial, tudo é vã hipocrisia de um moralismo decadente. A moral que mais parece uma roupa velha, usada e que não nos serve mais. Então por que vesti-la? Estar nu é menos imoral do que forjar uma vestimenta imprópria do qual nos envergonhamos de usá-la em prol de uma coerção social.
Venho perdendo minha lucidez e minha sensatez. Nada que seja rápido, cotidiano, perceptível, mas, em um processo lento e contínuo de mil mortes diárias. Mortes de minhas crenças, das minhas lembranças, do que fui, do que eu era antes da grande queda.
Se, deixei de crer no amor, se deixei de crer na vida em suas significações maiores, é por que em algum momento fui ferida de morte, pela compreensão profunda e maior de que nada faz sentido.
O que me atormenta não é algo que se produz de forma empírica em meu cérebro. Dopam-me, como se isso, resolvesse minha dor de ser. A hipocrisia da ciência, do racionalismo que acredita que a alma não sofre, porque, simplesmente não acreditam em alma.
Mas o que é essa criatura difusa que em mim habita estranha? Uma percepção tão clara e nítida de coisas que não vivi em minha existência atual. Recordações antigas que se perdem em meio a uma nevoa indistinta, mas que no entanto, tem a força de uma existência concreta e tão real, que posso sentir-lhes os cheiros , os aromas e cores.
Vozes que sussurram todos os segredos que não quero ouvir. Essa é a queda que me põe no abismo. Hoje e só por hoje, não desejo nada, além da paz sepulcral dos que jazem no silêncio de uma eternidade vazia.
Descalço meus pés, por que o frio me aproxima do corte de todas as minhas feridas abertas. Não quero o dia de amanhã, não quero o dia de ontem e o dia de hoje, que é a minha única certeza plena, me enoja e me dá asco. Causa-me a dor de todos os poetas mortos. Viver tornou-se uma tortura, para quem deixou de acreditar nos sonhos. Ilusões e sonhos são máscaras que usamos para poder sobreviver. Não quero máscaras, elas me sufocam me trancam a respiração. Só por hoje, forjarei a realidade do nada.
Quinta-feira – 14/10/10

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Divagaçoes

Posso escrever-me e percebo como é bom poder me escrever ou me reescrever. Mesmo q na limitação do meu dizer eu me reconstrua em um ser diverso do que sou.
A palavra que mente, e a mente que me dá a palavra. Transcendo a linguagem. Gosto de brincar com as palavras, assim como quem brinca com os dados. Não gosto dos formalismos, das regras, das limitações impostas ou das suas exceções. Aqui eu me permito à transgressão, do dizer-me, sem uma lógica que me aprisiona. Vomito sobre a lógica e assombro com o meu discurso de viés, das impossibilidades gramaticais. Gosto dos espantos que me causa o improvável dos meus dizeres. Gosto de soltar as palavras como quem solta pássaros esvoaçantes cheios de simbolismos que criam seus próprios signos livres das grades intelectualizadas dos saberes institucionalizados. Quero as estruturas repletas de suas vontades, e que parece não me pertencer. Amo a facilidade com que a mágica se traduz na criação do que não me é pensado no antes, mas apenas sentido. Se há sentido, eu observo depois de pronta a obra e não volto em correções inúteis sobre o momento único que me fez perder o significo.
Como um escultor que se Poe a trabalhar no barro, ou madeira, sem ao certo saber o que vai extrair do barro ou da madeira. E de repente, no processo, percebe que o rosto já estava aí. Basta antão, que suas mãos sigam as linhas daquele rosto.
Assim escrevo, deixando que as palavras esvoacem livres com sua trajetória já traçadas para a eternidade do que lhe é determinad

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

POEMAS

Na Noite Terrível (ÁLVADO DE CAMPOS)(Fernando Pessoa)

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.

Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.

O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.

Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.

Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures, Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas, Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...

Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.

Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos, Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Trechos do livro O POLVO

LUCAS

Lucas trabalhou pela parte da manhã na véspera do Natal. Recebeu seu salário, férias e tudo o que lhe era devido. Estava de férias e não sabia em absoluto o que faria com o tempo que teria a partir daquele momento. Não que exatamente isso o preocupasse. Jamais fazia planos. Custava-lhe já o imediato do tempo, não desejava pensar no dia de amanhã. Tinha muito tempo para nada fazer. Olhar fixo, sem rumo. Só com sua ausência. Depara-se com as vitrinas das lojas, lotadas nesta época do ano. Pessoas com pressa, com pacotes de presentes. Ruas, bares, shopings repletos. Papais-noéis estúpidos com suas máscaras assustadoras. Músicas natalinas se confundem com as buzinas histéricas dos automóveis.
Algo o prende. Uma loja de brinquedos. Buscou algo. Não sabia exatamente o que, mas o fascínio cresceu em busca de uma resposta. Seus olhos escuros percorrem os objetos expostos. Ali estava! Era uma boneca. Uma boneca pequena de longos cabelos louros, exatamente iguais àquela que ele comprará à Ângela há muito tempo atrás. Nem lembrava quando, mas sabia que fora há muito tempo.
E o tempo retira as cascas da antiga ferida. Lucas sangra por dentro, mas seu rosto é impassível. A dor cresce e as recordações surgem de forma vertiginosa.
Esquecer..Esquecer, isso é tudo.
Hoje tem dinheiro e pode se dar ao luxo de beber algo de qualidade. Nada de cigarros baratos. Talvez até comprasse um “pó” de qualidade. Quem sabe?
E assim, Lucas segue sem rumo certo. Para em qualquer bar. Bebe durante horas, absorto em pensamentos desconexos. Pensa em Heitor. Amava Heitor. Amor calmo, simples que nada exige que nada pede. Heitor era puro como uma criança. Ele era um oásis em meio ao deserto árido em que Lucas vivia. Não queria que Heitor sofresse, pensará em se afastar. Mas era Heitor quem acabava por lhe procurar. E mesmo Heitor vendo a aberração que Lucas se tornará, ele o amará. Isso despertará em Lucas um sentimento que lutará em destruir durante anos. Gostava de estar com Heitor. Abrirá seu coração. Falará da sua vida, dissera sobre suas idéias e quando percebeu estava envolto em uma teia de relação de cumplicidade e afeto que o punham em desencontro consigo mesmo. Ele, Lucas, odiava sentir-se preso a algo ou algum sentimento qualquer. Heitor começará a lhe tirar a paz da inexistência.
Amo, logo sou. Amo, logo existo! Lucas desejava não ser.




Perdi tua voz, perdi meu mundo... Não posso ver sem o teu olhar
Teu silêncio me disse adeus...Que eu ñ quis compreender, que ñ quis aceitar.
Mas o tempo devorou minhas reservas...Tua distancia cavou minha sepultura
Já não me reconheço...Estou mutilado de forma severa. Minha dor é o limite que está além do que posso suportar.
Acreditei que pudesse seduzir tua alma e ñ percebi que estava refém das redes da minha própria conquista. Não fui eu quem te aprisionou...Já estava eu, além do destino, preso a tua renúncia proclamada. Deixa então, agora que eu chore todas as lágrimas, todas as dores que tua rejeição provocou em mim...Ferido, doente de uma saudade louca, que te busca nas coisas mais banais. Que te relaciona nas coisas mais triviais...Estou assim, suspenso...Em desordem. Sou um ser das profundezas. Forjado nas caldeiras em fogo e brasa. Metais cortantes, que ultrapassa a carne crua num corte vertical. Sangro todas as minhas dores, meus amores e meus temores, até que, no vácuo oco da necropsia, nada mais restem do que a total ausência de identificação. Aceito minha definição de ser indefinido. Não suporto o peso de um nome, ou número, sou além do que sou no exato tempo do agora. Sou passageiro, peregrino, naufrago em um mundo de mares negros e profundos...Sou parte da legião condenada ao abismo pq tomou consciência de si e da dimensão da morte e da vida...E não soube o que fazer com o que soube. Na desordem eu me estabeleço...Perco-me. Estar perdido, fragmentado é minha condição vital. A simbiose me esmaga com a força do concreto. Defendo o direito da contradição...Do caos e da dialética da morte. A vida que profana a morte dentro da estreiteza aguda de suas paredes frias...

Ruptura da minha própria solidão.

E quando a noite grande desabou sobre a cidade febril, Lucas voltou ao seu apartamento medíocre. Bêbado demais para ver o caos que o circundava. É na cama estreita que Lucas se esquece de quem é. Esquece que existe e deixa que os dias prossigam na mais completa indiferença.

DIVAGAÇOES II

Sou contraditória, mas há uma lógica em minha contradição. Não sou sempre a mesma, por isso não me defino e nem me limito em frase feitas.
A cada dia me refaço... sou eu, mas não sou o eu q fui ontem. As vezes creio em muitas coisas, pq é preciso q eu creia.. outras vezes, sou inexata e descrente, pq minhas experiências me determinam circustancialmente.
Estou sendo professora, mas em mim.. habita um poeta... a arte é minha essencia.. É nela q me recrio e me releio e posso ser e ter, as formas q minha imaginação permitir.
Ou as palavras me levam além, ou julgo-me além das palavras.

Sonhos... sonhos... já tive muitos.. enterrei vários.. refiz outros tantos..Mas cansa-me sonhar as vezes...Os pesadelos fazem parte das minhas noites.. e os sonhos povoam meus dias..
Minha solidão é antiga... companheira de longas viagens dentro de mim mesma.. Sempre são as viagens mais facinates... ou apavorantes..mas sempre inigualáves.

No exato momento q escrevo isso... o tempo passou...e minhas intencionalidades mudaram... Uma inconstancia q me deixa no vácuo...
Estudei Filosofia com o sentimento e não com a razão.. por isso não me fiz filosofa, me fiz poeta q brinca com as idéias..
A razão me desestabiliza... pq eu mais sinto doq penso e não sei racionalizar oq sinto..
Agora ,q mais alguns segundos transcorreram.... percebo o quanto sou estupidamente incapaz, de ser algo, além doq me é dado no agora..
Não esperem de mim.. debates sobre os grandes filosofos.. Já os li faz muito tempo.. Muitos deles eu já me esqueci... Mas guardo alguns pensamentos na alma.. na mente... e as vezes surgem de algum lugar secreto...e se manifestam...
Troco nomes... citaçoes e faço uma sopa de letrinhas.
Não desejo ser elogiada, como não desejo ser alvo de chacota.. Sou oq sou ..ilimitada dentro das minhas limitaçoes...
Não desejo agradar... pq não agrado nem a mim mesma.. na maioria das vezes..
Se me suportarem...ótimo... Vcs são bravos.. .

Imagens

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Lembranças