sábado, 23 de janeiro de 2010

Divagaçoes

Logo a noite terminará e devo recomeçar a representação das falsificadoras caricaturas de uma personagem que desconheço. Cansa-me a peça que nunca termina. Ato, após ato, num interminável enredo de fantasmas e bobos da corte que atuam ora como num cortejo fúnebre ora como num picadeiro de circo. Já não sei onde me encontro... o desencontro tem sido meu ato de estréia.
Sorrisos camuflados, ironias nos bastidores e os aplausos me constrangem a alma. Transgrido o roteiro e a realidade me desconcerta nas vaias escancaradas de uma platéia patética. Sou parte da platéia, sou parte do elenco... Posso ser todos e posso ser tudo...Transfiguro-me a cada descida de cortinas, a cada entrada no palco. O espetáculo nunca para, porque o show é o que dá sentido a estupidez de uma realidade abominável.
Espectros que se ocultam por trás de doces sorrisos. Vomito minha revolta na hora tardia de todas as horas que sou forçada a ser a representação do que não sou. Sou a “persona” que grita no palco da vida, sou a hora retroativa, o tempo que deixou de ser, o silêncio que interrompe o som de todas as palavras não ditas. Sou a passagem, a fuga estratégica, sou a sombra e a luz dos refletores adormecidos. Sou a morte camuflada... Sou a peça, ator e expectador... Sou nada neste aparente tudo que desconheço.

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